

Articles (104)

‘Conta-me Como Foi’, ‘O Ídolo’ e mais oito séries para ver em Junho
Junho é um mês de regressos na televisão. Antes de mais, dos Lopes. O oitavo capítulo de Conta-me Como Foi vai para o ar, depois de mais de dois anos de espera e indefinição. É caso para dizer: finalmente! À série da RTP junta-se outro título sobejamente conhecido – e amplamente debatido na última década: Black Mirror (Netflix). Mas também não faltam novidades. Polémicas (O Ídolo, HBO Max), indie (Selftape, Filmin), criminais (The Crowded Room, Apple TV+), históricas com twist contemporâneo (A Rainha Serpente, TVCine Emotion), absurdas (I'm a Virgo, Amazon Prime Video), ou de super-heróis (Invasão Secreta, Disney+). Estas são as séries para ver em Junho. Recomendado: As séries do momento que estão a colar-nos à televisão

As novas esplanadas em Lisboa para o Verão
Os dias são quentes e longos, e as noites não arrefecem. Bebe-se um copo (e outro e outro) e acabamos a jantar. Se é verdade que Lisboa tem mais de 230 dias de sol por ano, é igualmente verdade que o verbo esplanadar (inventado por nós há muito tempo) se conjuga melhor nesta época do ano. Não por acaso, há muitas e boas novidades. Seja para comer ou apenas para beber um copo, estas são as novas esplanadas em Lisboa que prometem animar o Verão. Tome nota porque a vida é demasiado curta para os desperdiçar numa esplanada má. Recomendado: 20 restaurantes abertos ao domingo em Lisboa

‘Rabo de Peixe’, ‘Americano da China’ e mais nove séries para ver em Maio
O segundo “original” português da Netflix vai ser um sugadouro da nossa atenção. Felizmente, Rabo de Peixe só se estreia no final do mês e há muito para ver entretanto. White House Plumbers (HBO Max), Silo (Apple TV+) ou Atracção Fatal (SkyShowtime) são disso bom exemplo, embora o que esteja a deixar-nos com a pulga atrás da orelha seja Americano da China (Disney+), uma fantasia que junta as duas estrelas de Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo: Michelle Yeoh e Ke Huy Quan. E depois ainda vem The Gryphon (Prime Video). Estas são as séries para ver em Maio. Recomendado: Onze minisséries da Netflix que vale a pena ver

De ‘As Boas Mães’ ao final de ‘Barry’, 15 séries para ver em Abril
Como é que diz o provérbio? Em Abril, séries mil. Ou algo parecido. Este mês o pequeno ecrã vai fazer desabar sobre nós uma torrente de produções, que além de muitas novidades inclui as temporadas finais de dois títulos bem-amados: Barry e A Maravilhosa Sra. Maisel. Entre a primeira série a ser premiada num grande festival de cinema (a italiana As Boas Mães, em Berlim), uma prequela do musical que celebrizou John Travolta e Olivia Newton-John (Grease: Rise of the Pink Ladies), um remake por fascículos de David Cronenberg (Dead Ringers) ou uma espécie de A Guerra dos Tronos mas na Roma Antiga (Domina), o difícil vai ser escolher. Estas são as 15 séries que queremos ver em Abril. Relacionado: As melhores séries do momento

11 séries novas a não perder nos próximos meses
O pequeno ecrã não pára. A cada semana, há mais uma mão-cheia de séries para ver. As grandes plataformas de streaming como a Netflix, a Disney+, a Amazon Prime Video, a HBO Max ou a Apple TV+ batalham tanto pela nossa atenção que não nos dão descanço. E ainda há tudo o resto, das mais pequenas e direccionadas (olá, Filmin) à boa e velha televisão. Só há uma solução: escolher. Mas escolher em cima da hora dá mau resultado e provoca demasiadas frustrações. O melhor é saber antecipadamente o que queremos ver. Foi para isso que se fez esta lista, com as séries novas a não perder nos próximos meses. Aqui não encontra segundas nem terceiras temporadas. Apenas novidades. Uma selecção de novidades. Recomendado: As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

O fim de ‘Succession’, ‘Stonehouse’ e mais dez séries para ver em Março
Março, na televisão, começa numa galáxia muito, muito distante. The Mandalorian (Disney+) está de volta para mais aventura com marca Star Wars e dá o mote para um mês de regressos de peso: mais lá para a frente, Ted Lasso (Apple TV+) entra na terceira temporada; e Succession (HBO Max) avança dramaticamente para o capítulo final (valerá a pena alimentar a ideia de que o fim anunciado pelo criador Jesse Armstrong é um golpe de teatro, qual família Roy?). Mas também há novidades que queremos mesmo ver: são os casos de Extrapolations (Amazon Prime Video), Stonehouse (Filmin) ou A Mania do Bem-estar (Netflix). Feitas as contas, estas são as 12 séries a não perder em Março. Recomendado: As melhores séries do momento

Óscares: os filmes nomeados que tem mesmo de ver em streaming
Nem todos os cinéfilos apreciam partilhar salas de cinema, por exemplo pelo perigo de ter de ouvir pipocas a estalar na boca do vizinho. A boa notícia é que há muitos filmes com nomeações aos Óscares para ver em vários serviços de subscrição e, por isso mesmo, compilamos – por ordem alfabética – este guia para não lhe passar um ao lado. Do multinomeado Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, disponível no serviço TVCine+, a produções que chegam aos prémios com apenas uma nomeação, como Blonde. Mas tudo vale a pena se a cinefilia não é pequena. A cerimónia de atribuição dos prémios está marcada para o próximo dia 13 de Março. Recomendado: Os filmes que ganharam mais Óscares

Óscares: os filmes nomeados que tem mesmo de ver em streaming
Nem todos os cinéfilos apreciam partilhar salas de cinema, por exemplo pelo perigo de ter de ouvir pipocas a estalar na boca do vizinho. A boa notícia é que há muitos filmes com nomeações aos Óscares para ver em vários serviços de subscrição e, por isso mesmo, compilamos – por ordem alfabética – este guia para não lhe passar um ao lado. Do multinomeado Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, disponível na TV Cine, a produções que chegam aos prémios com apenas uma nomeação, como Blonde. Mas tudo vale a pena se a cinefilia não é pequena. A cerimónia de atribuição dos prémios está marcada para o próximo dia 13 de Março. Recomendado: Os filmes que ganharam mais Óscares

A Praça do Império reabriu com os polémicos brasões em pedra
O jardim da Praça do Império voltou a ser local de passagem entre o Mosteiro dos Jerónimos, o Centro Cultural de Belém e a travessia para o Padrão dos Descobrimentos. A renovação está terminada e a obra, que durou meses, concluída. No chão encontram-se os polémicos brasões dos distritos portugueses e das antigas “províncias ultramarinas”, e os escudos da Ordem de Avis e da Ordem de Cristo. Símbolos agora esculpidos em calçada portuguesa, em substituição dos buxos originais que ali existiam desde as cerimónias dos 500 anos da morte do Infante D. Henrique (1960-1961), quando foram acrescentadas ao projecto desenhado por Cottinelli Telmo para a Exposição do Mundo Português (1940). Manter a evocação do passado colonial no jardim foi o que atrasou vários anos a reabilitação da Praça do Império, gerando intensos debates entre quem defendia que a sua preservação era também a preservação da memória nacional, e quem defendia que essa memória não era algo que se devesse continuar a celebrar num espaço público. A actual opção foi apresentada em 2019 pelo gabinete ACB – Arquitetura Paisagista, num projecto que teve a arquitecta paisagista Cristina Castel-Branco como responsável. Além dos brasões, foi reabilitado o pavimento, retirou-se a relva que rodeava o lago e a fonte luminosa, e plantaram-se árvores no espaço de uma antiga zona de estacionamento. Também passou a existir uma horta que é uma homenagem aos Jerónimos. A inauguração aconteceu nesta terça-feira, 14 de Fevereiro, pelo Pres

‘Funny Woman’, ‘The Consultant’ e mais 12 séries a não perder em Fevereiro
Christoph Waltz, David Tennant e Billy Crudup. É este trio que vamos poder ver na televisão este mês. Cada um na sua série: The Consultant, Litvinenko e Olá, Amanhã!. E cada um no seu serviço de streaming: Amazon Prime Video, Disney+ e Apple TV+, respectivamente. Para todos os efeitos, é um bingo. Para a Netflix fica o regresso de Tu e para a HBO Max uma série documental sobre a produção da primeira temporada de House of The Dragon. Há ainda regressos muito aguardados como os de Operação Maré Negra e Carnival Row. Mas há mais. Estas são as 14 séries que queremos ver em Fevereiro. Recomendado: As séries do momento que estão a colar-nos à televisão

As séries novas da Netflix de que anda à procura
A Netflix é a terra da abundância no que toca ao streaming. Todas as semanas se estreiam mais e mais séries e filmes. É difícil, senão impossível, acompanhar o ritmo. Como escolher o que ver a seguir quando há tantas e tão variadas opções? Aqui concentramos a nossa atenção nas séries disponíveis na Netflix. E nem sequer é em todas séries: aqui olhamos para as novidades. Nada de novas temporadas, reposições, fundo de catálogo, nada disso. Esta é a lista das séries novas da Netflix que valem a pena ver. Recomendado: As 20 melhores séries para ver na Amazon Prime Video

‘The Last of Us’, ‘That 90’s Show’ e outras séries para ver em Janeiro
Houve um tempo em que Ashton Kutcher e Mila Kunis eram um casal, um tempo muito antes de o serem. Um tempo anterior a Efeito Borboleta, a Jobs. Anterior a Cisne Negro, a Um Belo Par... de Patins. Um tempo em que faziam o casal de adolescentes descerebrados e o mundo era simples, resumindo-se a conversas numa cave alimentadas a erva, cerveja e à partilha da miríade de pensamentos profundos que estas duas substâncias fomentam entre amigos. Esse era o tempo de That 70's Show e não volta para trás. O tempo avança. Embora, neste caso, avance para trás – para os anos 1990, com uma nova geração a ocupar o piso inferior da casa dos Foreman. É possível voltar a uma sitcom em que já fomos felizes? A Netflix paga para ver. Ainda assim, não tanto como a HBO para recriar o popular videojogo The Last of Us, naquela que deve ser a produção televisiva mais exuberante deste início de 2023. Veremos. Mas as opções não se esgotam entre o abismo e a nostalgia. Há outras boas promessas. Estas são as 12 séries que queremos ver em Janeiro. Recomendado: As melhores séries do momento
Listings and reviews (17)

O Filme do Bruno Aleixo
A estreia no cinema do sexagenário urso-cão mais famoso das Beiras é um absurdo. Embora não o completo e espertalhão absurdo por que ansiávamos. Quem estava a salivar por hora e meia de sitcom focada em conversas do quotidiano, chocarrice saloia pontuada por silêncios desconfortáveis e pequenos embustes, terá de recalibrar as expectativas. O Filme do Bruno Aleixo começa com o protagonista coimbrão (com ascendência na Bairrada e no Brasil) a revelar ter sido contactado por “um homem que tem uma empresa que faz filmes” – Luís Urbano, da O Som e a Fúria, que já tinha produzido as séries “Aleixo Psi” e “Copa Aleixo” –, que o desafiou a rodar uma biografia sua para o grande ecrã. E Aleixo convoca a grupeta do costume – Homem do Bussaco, Renato Alexandre e Busto – para o ajudar a ter uma proposta para apresentar... no último dia do prazo. O que nos é apresentado é a conversa de café que resulta daí, com a representação, por actores de carne e osso – Adriano Luz, Rogério Samora, Manuel Mozos, Gonçalo Waddington, José Raposo, João Lagarto –, das ideias que vão surgindo. Tem graça, claro. E uma das premissas da interacção entre estas personagens, a de que os diálogos são circulares e que o ponto de partida interessa pouco, é respeitada. Mas se os criadores João Moreira e Pedro Santo constroem este filme em cima do conhecimento prévio deste universo, também sentiram necessidade de se afastarem dele para garantir acção, dando demasiado espaço ao live action. Já deveriam saber que um bom

Bostofrio
Filho de pai incógnito é uma condição que a lei portuguesa prevê, desde 1977, apenas para casos excepcionais. Mesmo assim, é uma realidade que persiste: em 2010, existiam 150 mil nessas condições, e o número de registos anuais tem aumentado. O pai de Paulo Carneiro, que aqui se estreia na realização, é um deles. E o propósito deste documentário é uma busca por respostas, por histórias e até por uma simples fotografia que o ajudem a conhecer o avô, que só é incógnito no papel – na aldeia barrosã de Bostofrio, 30 habitantes, toda a gente sabe quem foi, como foi, o que aconteceu. Carneiro (Lisboa, 1990) passou por dificuldades para fazer este filme, não em quebrar a “lei do silêncio”, como quer fazer crer, mas em ganhar a confiança daquela gente simples, intimidada pela câmara e por inquirições delicadas. Esse processo ficaria bem fora do filme. Seria igualmente vantajoso que preparasse as entrevistas, para evitar ser errático, repetitivo e disfarçar o mau jeito. Descontando redundâncias narrativas e as bucólicas paisagens transmontanas, sobra pouco. É aí, e não no plano técnico, que se sente a falta de meios: seria necessária outra dedicação para alcançar o resultado pretendido. O documentário é exibido em conjunto com a curta Cinzas e Brasas, de Manuel Mozos. Por Hugo Torres

Skin - História Proibida
Bryon Widner é um supremacista branco numa encruzilhada: depois de participar no espancamento de um jovem negro durante uma manifestação, o brutamontes, venerado entre pares, começa a duvidar do caminho da violência. Skin passa-se no Ohio, em 2009, e é baseado em factos reais. Bryon não é só uma personagem – é alguém que decidiu sair do movimento neonazi, penou para o conseguir (com a ajuda de um activista negro), agiu como denunciante para o FBI, e passou dois anos em dolorosas cirurgias para remover as tatuagens iconográficas do rosto. O filme tem pontos de contacto com a curta-metragem homónima com que o realizador Guy Nattiv, de origem israelita, ganhou um Óscar. Mas a longa demora-se no recrutamento, nas batalhas fratricidas e no romance que o mantém à tona. Nattiv optou por se aproximar do monstro para tentar compreendê-lo. Não é o mesmo retrato cru e impiedoso deste tipo de marginalidade. O que retira pujança à narrativa, mas oferece a excelente Vera Farmiga ao elenco. Por Hugo Torres

Avenida Almirante Reis em 3 andamentos
Lisboa tem poucas avenidas tão ricas, com gente de tantas proveniências, extractos sociais e projectos de vida. É uma fonte virtualmente inesgotável de histórias e leituras da sua angulosa realidade, de leituras longitudinais ou trabalhos menos densos. É por isso frustrante ver Avenida Almirante Reis em 3 Andamentos esconder a sua inépcia atrás de um título pomposo e da paciente bondade com que a cinefilia classifica este tipo de projecto: “filme- ensaio”. Um ensaio pressupõe explorar uma ideia, um bem escasso por estas paragens. Recuando a Cândido dos Reis e à República, passando pelo 1.o de Maio de 1974, Renata Sancho propõe-se olhar para as mudanças em curso nesta avenida (a rodagem decorreu entre 2016 e 2018, quando os preços do imobiliário dispararam). Mas o resultado é uma sequência de planos desconexos, sem interesse nem narrativa, que parece feita só para iniciados. E sabe deus que interesse encontrarão esses por aqui. Por Hugo Torres

Santiago, Italia
As “geringonças” sinistras não são uma originalidade portuguesa. Em 1970, Salvador Allende congregou quase toda a esquerda chilena na candidatura presidencial que o levou ao poder, com o apoio essencial dos democratas-cristãos. Socialistas, sociais-democratas, comunistas e outros marxistas tomaram La Moneda pela via democrática, um feito extraordinário em tempo de golpes e revoluções, e em plena Guerra Fria, que gerou entusiasmo no país e um alarmismo despeitado em Washington. Entendendo que era preciso impedir que a experiência fizesse escola, o nefasto Richard Nixon pôs a CIA em campo para precipitar a queda do governo, o que acabou por acontecer de forma trágica a 11 de Setembro de 1973. Neste regresso ao documentário, Nanni Moretti começa por mostrar o ambiente de festa que se seguiu à eleição, passa às divergências no seio da coligação e, quando damos por nós, já os militares saíram à rua para “restaurar” a democracia, bombardeando a capital, Santiago, e instaurar uma ditadura que durou até 1990. Allende suicida-se. Pinochet, o general que comanda as tropas, ordena a perseguição imediata de esquerdistas mais activos, que encontram na diplomacia italiana um refúgio e a possibilidade de uma nova vida, na Europa, ao contrário do que acontece com os migrantes do Mediterrâneo hoje. E é aqui que o realizador italiano quer chegar: a intenção nunca foi abordar aqueles anos de sonho materializado, que até inspiraram o “compromisso histórico” da política italiana nos anos 1970.

Onde Está Você, João Gilberto?
“Porquê tentar encontrar um homem que não quer ser encontrado?” O realizador franco-suíço Georges Gachot faz a pergunta e dá a resposta com o documentário João Gilberto, Onde Está Você?, que se estreia neste sábado no Cinema Monumental. É um enamoramento, uma obsessão feita policial, que nos leva no encalço do pai da bossa nova. João Gilberto, recentemente desaparecido, aos 88 anos, passou a derradeira fase da sua vida em reclusão doméstica, longe dos palcos e de quaisquer olhares indiscretos. Rever o cantor e compositor era, por isso, um desejo acalentado por fãs, amigos e jornalistas. Nenhum dos quais foi bem-sucedido nesse desígnio. Gachot – que tem uma filmografia recheada de música brasileira, tendo se debruçado sobre Maria Bethânia (Música é Perfume, 2005), Nana Caymmi (Rio Sonata, 2010) e Martinho da Vila (O Samba, 2014) – foi para o Rio de Janeiro seguir os passos do jornalista alemão Marc Fischer, que ali passou cinco semanas a tentar cruzar-se com João Gilberto, para que este lhe cantasse ao violão, e à sua frente, “Ho-ba-la-lá”. O tema tinha-lhe sido dado a ouvir por um japonês, anos antes, servindo de porta de entrada à bossa nova e a uma paixão ímpar pelo seu autor. Fischer falhou o objectivo, mas descreveu o processo em Ho-ba-la-lá – À Procura de João Gilberto, suicidando-se pouco antes do lançamento do livro, em 2011. Miúcha, João Donato, Marcos Valle e Roberto Menescal são entrevistados no filme, tal como o barbeiro que atendia o compositor baiano em casa e o

Aperta Aperta Com Elas
Uma pequena e alva aldeia no cantão suíço dos Grisões vive uma ilusão: a normalidade dos casais, dos filhos, dos bolinhos, dos ajuntamentos de vizinhos e das missas dominicais esconde uma paz podre que vai deixar esta comunidade à beira do precipício. O catalisador é a chegada de um forasteiro no lugar onde ele é menos esperado: o púlpito da igreja. A diocese destaca para ali um pároco indiano com uma mensagem mais cristã do que a hierarquia católica gostaria, centrada no amor. Não só o amor etéreo: o padre Sharma aconselha o seu rebanho sobre o amor executado entre lençóis. Se no início é recebido com desconfiança racista, quando os homens descobrem as mulheres de Kama Sutra na mão, tentam afastá-lo para camuflar infidelidades, inseguranças e impotências. O filme de Christoph Schaub não cria o clima de tensão que uma história destas teria numa aldeia remota, nem funciona como a comédia que se anuncia (o mais hilariante da fita é o título em português). Salva-se a possibilidade de ouvirmos diálogos em romanche, uma língua em risco de extinção. Por Hugo Torres

Linhas Tortas
Luísa é uma jovem e bela actriz. Acaba de regressar a Lisboa, tendo importado de Londres uma relação infeliz. António é um arguto e reconhecido escritor, que assina uma celebrada coluna de jornal: “Linhas Tortas”. É casado, tem um filho da idade de Luísa, e conhecemo-lo quando se estreia a fazer figura “de parvo” como comentador na televisão. São ambos utilizadores de redes sociais – ela descontraidamente, nos intervalos do dia; ele à noite, no escritório de casa, com um copo de uísque a acompanhar. É nesse ambiente virtual, em que António se esconde atrás do nome e da imagem do místico russo Grigori Rasputin, que se cruzam e inevitavelmente se enamoram. Após hesitações várias, decidem encontrar-se. O que não chega a acontecer: António sofre um acidente de viação, perde parcialmente a memória e fica hospitalizado por muito tempo. Rita Nunes, que se estreou em 1996 com a temperamental e homicida curta-metragem Menos Nove, e tem vindo a trabalhar em publicidade e televisão, trouxe para a sua primeira longa-metragem parte do elenco da série Madre Paula, que co-realizou para a RTP em 2017: Joana Ribeiro (Luísa), Maria Leite (amiga de Luísa), Miguel Nunes (filho de António) e Joana Pais de Brito; aos quais se juntaram Américo Silva (António) e Ana Padrão (mulher de António). Os actores estão tão bem quanto lhes permite o argumento, que Carmo Afonso, uma das contribuintes líquidas do Twitter português, escreveu. Sem espaço nem tempo para se desenvolverem, as personagens avançam por

Quero-te Tanto!
Vicente Alves do Ó faria bem em levar a comédia a sério. Quero-te Tanto não é um filme, é um passeio da fama para actores de telenovela, a desfilar no nível rasteiro a que anseiam ver os seus nomes encastrados numa rua qualquer. Personificam bonecos de cartão que não chegam a ser personagens, a ter espessura, vieses, sofisticação. O realizador dirá que estamos diante de uma rom-com ostensivamente cartunesca, mas nada justifica o texto preguiçoso, as caricaturas toscas, os estereótipos simplórios, as graçolas em esboço. Os protagonistas, Mia (Benedita Pereira) e Pepê (Pedro Teixeira), estão numa encruzilhada familiar, entre a alegria do filho que vem e a angústia do dinheiro que falta. O casal decide roubar “rapidinhas da sorte”, do interior da estátua do Marquês de Pombal, e acaba detido, julgado e encarcerado. Até que ele foge da prisão para se reencontrar com a amada em Serpa, recorrendo a ajudas voluntárias e involuntárias (incluindo de uma jornalista cujas boas intenções são abocanhadas pela voracidade inescrupulosa da estação para que trabalha, a TVI, que co-produz o filme e nos entra pelos olhos dentro). No seu encalço leva os agentes Coelho e Raposo, interpretados por Pedro Lacerda e Joana Manuel ao estilo Jacques Clouseau, cujas aparições são raríssimos momentos de oxigénio na fita. Dalila Carmo e Rui Mendes também merecem apreço, em contraste com as desaustinadas Alexandra Lencastre e Fernanda Serrano. A banda sonora – Doce, Paião, Cid, Sheiks – atinge o zénite

Besta
Jersey é um paraíso fiscal no Canal da Mancha. Esqueçam as congéneres caribenhas: esta ilha é austera, a alegria reside na família e no circuito fechado de amigos. Moll (Jessie Buckley) é uma jovem adulta sufocada por um pai demente e uma mãe rígida e controladora. Conhecemo-la pouco antes de ela fugir do seu aniversário, passar a noite a dançar com um estranho, e acabar a ser salva de uma possível violação por Pascal (Johnny Flynn), um “artesão” cadastrado, marginal e suspeito de ser um assassino em série. Moll apaixona-se e enfrenta toda a gente para o defender, criando uma tensão explosiva na pequena comunidade. Michael Pearce (Bafta para melhor estreia) não consegue dar à história o suspense que se exigiria e a força do filme perde-se na realização, no guião pouco subtil e na ineficaz direcção de actores. Por Hugo Torres

Zubir
O segredo desta churrasqueira está no molho com que se lambuzam os pitos acabados de sair da grelha. Um piripíri de inspiração indiana que faz a síntese desta casa no Bairro das Colónias: frango moçambicano, picante indiano, atendimento brasileiro. Para acompanhar com batata frita e arroz basmati bem seco (meio frango com ambos, 5,50€). O espaço é muito pequeno, halal (não serve álcool) e ponto de encontro da comunidade muçulmana local. Quando lá fomos, duas senhoras de hijab discutiam os méritos de Shakira.

Brick Cafe Lisboa
Um oásis de boa comida a preços imbatíveis. Nuno Pereira e Inês Araújo tinham aberto há pouco a Casa Amarela, ao Rato, quando se juntaram ao arquitecto Luís Carvalho e ficaram com o Brick. Mantiveram o brunch que fez a clientela na primeira vida da casa e começaram a trabalhar na cozinha com influências asiáticas, peixe fresco e produtos sazonais. Os sabores dispararam, os preços ficaram no sítio: 7,50€ a 8€ os pratos de carne e de peixe, 6,20€ a 6,70€ o prato económico e a salada (um deles é sempre vegetariano). As sobremesas são caseiras (a tarte de lima, 2,50€ a fatia, é a mais popular), há cerveja artesanal (3,20€) e vinho (3€/copo) da semana, sumos do dia (1,50€-1,70€) e ambiente de bairro. O que é um feito num sítio onde nem sempre é fácil conseguir mesa, sobretudo ao fim-de-semana.
News (276)

A felicidade, todos nós queremos
Hiperbórea era uma espécie de Utopia, mas milénios antes de Thomas Moore se pôr com ideias sobre como organizar uma sociedade perfeita. A mitologia grega apresentava-o como um lugar inteiramente feliz, que os deuses usariam como estância de férias durante o Inverno, e os seus habitantes, os hiperbóreos, representados como gansos. Vem isto a propósito do Jogo do Ganso, de encarar a vida como um jogo (como ensinava Heraclito), de civilizações avançadas e, no fundo, de felicidade. “Diz se é perigoso a gente ser feliz”, entoam em uníssono Bruno Huca, Júlia Valente e Sílvia Filipe, os actores que em palco nos vão debitando histórias, fragmentos de conhecimento e canções de Chico Buarque (como esta), Sérgio Godinho, Helder Rei do Kuduro, Benjamin Clementine ou Queen. São eles que nos falam sobre Hiperbórea e sobre o jogo em que “todos os desvios são bem-vindos”, “chamado Jogo do Ganso ou da Glória, mas que poderia chamar-se Da Felicidade”. Da Felicidade é – isso, sim – o título da peça-concerto que se estreia a 5 de Julho, quarta-feira, no São Luiz, onde fica até 16 de Julho na Sala Mário Viegas. É uma criação conjunta de Cristina Carvalhal e de João Henriques, com direcção musical do pianista argentino Ariel Rodriguez, que integra o elenco, tal como o clarinetista José de Geus e a contrabaixista Sofia Queiroz, que acompanham o trio de actores em palco. A ideia, conta-nos Cristina Carvalhal, foi mesmo usar o formato de um concerto, que depois “extravasa um bocadinho para a cena”, e

Diogo Infante encena musical a partir de Shakespeare para a nova temporada do Trindade
“A programação não é extensa, mas é seguramente boa.” Diogo Infante referia-se à próxima temporada do Teatro da Trindade Inatel, apresentada esta terça-feira no palco da Sala Carmen Dolores. No entanto, podia usá-la a propósito de qualquer uma das que programou durante os seis anos que leva como director artístico daquele espaço, onde os espetáculos têm temporadas maiores do que noutros teatros da cidade e por isso são menores em número. O que tem resultado. “2022 foi o melhor ano de sempre, com mais de 87 mil espectadores”, disse Diogo Infante, falando numa “elevada taxa de ocupação” e num “reconhecimento” crescente que lhe permitiu ultrapassar as metas traçadas para esse ano. Com o presidente do Conselho de Administração da Fundação Inatel, Francisco Caneira Madelino, ao lado, Infante sublinhou “a liberdade de acção e a disponibilidade de meios” que tem à disposição e que lhe permite “correr alguns riscos” em busca de novos públicos. Novo ou antigo, o público tem acorrido ao Trindade e esgotado sessões e espectáculos. Na temporada que agora se encerra, aconteceu com O Diário de Anne Frank e Noite de Reis, que por isso serão repostos em cena. O primeiro – que o director artístico afirmou ter tido “milhares” de pessoas com vontade de o ver mas sem disponibilidade de bilhete, mesmo estando quatro meses em cartaz – abre a temporada 2023/24 logo a 26 de Julho, fora de portas: vai estar no Teatro Maria Matos até 8 de Outubro. Beatriz Frazão protagoniza, Marco Medeiros encena. O

A festa do teatro, entre a Trafaria e Nova Iorque
“A Trafaria é um sítio magnífico para visitar. Então nesta altura do ano, é uma vila lindíssima.” É por lá que Ana Nave nos quer ver às sextas-feiras e sábados, a partir de 30 de Junho e até 29 de Julho. A actriz, que conhecemos de um sem-fim de produções para televisão e cinema, do longínquo Duarte & C.ª ao mais recente Snu, filme em que interpretou Natália Correia, tem também um longo percurso pelo teatro e desde 2017 que desenvolve o seu trabalho como encenadora enquanto directora artística do Núcleo Cultural Arte33, em Almada. Bianualmente estreia um espectáculo que resulta da investigação sobre a história de um local, primeiro, e que a seguir envolve a comunidade na criação. Sempre em Almada. Depois da Costa da Caparica e de Cacilhas, é a vez da Trafaria. Com o Tejo e Lisboa ao fundo, o cenário era o ideal para o que Ana Naves queria fazer: Pequenos Sons da Boca, da dramaturga, argumentista e actriz norte-americana Bess Wohl. “É uma peça quase sem texto”, conta Ana Nave por telefone. Estreada Off-Broadway em 2015, recebida com encómios da crítica (incluindo os da Time Out Nova Iorque) e reposta logo a seguir, a peça é sobre um grupo de seis pessoas que decide fugir da vida agitada da cidade e fazer um retiro de silêncio, durante cinco dias. “Estávamos à procura de um sítio que fosse periférico a Lisboa, mas não muito longe, porque as personagens vão fazer um retiro fora de uma grande cidade mas perto dela. E, dentro deste projecto comunitário, pareceu-nos que a Trafaria

Marco Martins e as mulheres que a imigração tornou invisíveis
No princípio era a vida. Depois, a morte chega e vai ocupando. O corpo continua a andar daqui para ali, cada vez mais inconsciente, mais entorpecido, até se esvair por fim nas memórias que foi acumulando. A morte é um deslizamento, não acontece de uma só vez. Resistir é inútil, mas é tudo o que resta. É uma prova de força para cumprir até à exaustão. “Olha para nós. Ainda não estamos exaustas”, ouve-se do palco, onde oito actrizes não-profissionais dão corpo e voz e solidez a Pêndulo, peça em que Marco Martins desenovela as suas histórias de imigração e invisibilidade umas das outras e as conta individualmente, com os seus tempos e as suas diferenças. São mulheres com idades entre os 31 e os 76 anos, que trabalham ou trabalharam como cuidadoras em Portugal, para onde vieram de São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Brasil com sonhos que tardam ou se perderam. “Talvez seja este o principal problema do Homem: ter sido criança”, volta a ecoar do palco. Os sonhos ficam a pesar e a inocência vai degenerando em melancolia. Este é o sétimo projecto de teatro do realizador com actores não-profissionais e dá resposta a quem lhe disse que não precisava de ir a Inglaterra para falar de imigração, como fez no recente Great Yarmouth: Provisional Figures. Pois não. “É um problema global”, frisa Marco Martins, numa conversa após o ensaio geral que precedeu a estreia, que aconteceu no Auditório Municipal Augusto Cabrita, no Barreiro, a 10 de Junho. Quando o filme chegou às salas de cinema

Renda acessível, um grande parque verde e ciclovia: será desta que o Vale de Santo António avança?
A Avenida Mouzinho de Albuquerque liga a Praça Paiva Couceiro a Santa Apolónia, atravessando todo o Vale de Santo António. É um percurso com um quilómetro e meio, e é a única intervenção pública concretizada desde que se começou formalmente a pensar no que fazer naquela zona, ainda nos anos 1950. De um lado e do outro, estão à vista cerca de 50 hectares de terreno expectante, para os quais já houve vários projectos, postos no papel ao longo das últimas duas décadas (incluindo a construção de uma biblioteca central e de um espaço próprio para o Arquivo Municipal). Nada avançou. Agora, a autarquia quer dar a este território um “papel determinante na política municipal de habitação”. As mudanças ao Plano de Urbanização do Vale de Santo António (PUVSA) foram aprovadas esta quarta-feira. Em reunião de Câmara, os vereadores da coligação Novos Tempos, do PS, do PCP e do Livre votaram favoravelmente o documento, que mereceu a abstenção dos Cidadãos Por Lisboa e o voto contra do Bloco de Esquerda. O executivo de Carlos Moedas acolheu alterações propostas por todos os partidos que aprovaram esta nova versão do PUVSA, sobretudo para garantir que a operação acautela a disponibilização de casas para arrendamento acessível. Todavia, a oposição mantém reservas em relação ao documento, uma vez que não é claro o número de fogos que terá esse propósito. A Câmara de Lisboa informa, em comunicado, que esta proposta de alteração ao PUVSA tem “um grande foco na criação de espaços habitacionais de

Um século depois, o que tem Isadora Duncan para nos dizer? Tudo
Quem está à nossa frente, em palco, é incerto. É uma voz, uma fala? É uma mulher, são várias, são todas as mulheres? É a própria Isadora Duncan através de Rita Lello? Ou será o inverso? “Essa é a pergunta que faço a mim própria e que ainda não sei responder”, diz a actriz, que vai interpretar a histórica bailarina norte-americana num espectáculo em cena no São Luiz, na Sala Mário Viegas, entre 31 de Maio e 9 de Junho. “Quem é a pessoa que está ali? Não sou eu sempre. Há coisas que acontecem que não têm a ver com a minha sensibilidade. Tem a ver com a sensibilidade da Isadora: determinadas posições, determinados gestos, até determinadas escolhas cénicas, que eu não escolheria assim.” Isadora, Fala! é um monólogo que decorre a grande velocidade e “há muitos momentos que são uma espécie de delírio”. “Isto é uma espécie de comboio em que entro e só saio no fim da viagem. Há bocado estava ali atrás e pensei: eh pá, já estou aqui. Passou-me assim atrás da cabeça”, revela Rita Lello, no final de um ensaio, em Chelas. O texto é imparável, o movimento constante. Pode parecer extenuante, mas a actriz garante que é exactamente ao contrário: “É energizante.” E isso tem a ver com a personagem. “Se calhar, sim. Ela era eufórica e, com o ritmo que o espectáculo tem, eu estou eufórica. Provavelmente pelo ritmo cardíaco, pelo ritmo respiratório, pelo ritmo do próprio texto, por tudo, é energizante, é vital. Fomos nós que impusemos [este ritmo], ninguém me obrigou a fazer isto assim [risos].”

Possível festa do Benfica obriga Feira do Livro a cancelar ou reagendar 155 eventos
A Feira do Livro abre portas na quinta-feira, 25 de Maio, mas terá de ajustar o horário apenas dois dias depois por razões de segurança. No sábado joga-se o título de campeão nacional de futebol no Estádio da Luz, numa partida que vai pôr frente-a-frente o Benfica e o Santa Clara. Em caso de vitória (e quase certamente em caso de empate), a equipa lisboeta conquistará o 38.º título da sua história e os adeptos deverão, como se tornou habitual neste século, acorrer em massa ao Marquês de Pombal para festejar. Como a Feira decorre mesmo ali ao lado, no Parque Eduardo VII, vai ter de fechar mais cedo. Essa decisão já tinha ficado clara. Nesta terça-feira, foi revelada a hora a que esse encerramento vai acontecer: 17.00. Isto é, seis horas antes do que seria o horário normal para um sábado (11.00-23.00) e uma hora antes de a partida ter início, a cerca de cinco quilómetros dali. Num comunicado feito ao final da tarde, a entidade organizadora, a APEL, revela ter sido informada pela PSP de que “o encerramento da Feira do Livro terá de ocorrer às 17.00, de modo a assegurar que até às 18.00 o recinto fique totalmente liberto de pessoas (funcionários e visitantes)”. Só assim, lê-se, será possível “garantir a segurança, a ordem pública e a integridade dos equipamentos públicos e privados em todo o perímetro de segurança afecto às eventuais comemorações que venham a acontecer”. Assegurando que “irá cumprir na íntegra o pedido efectuado pela PSP, contribuindo assim para o cumprimento da

Que tipo de pessoa é: inteligente, bandida, tansa ou estúpida?
Em 1973, o italiano Carlo M. Cipolla, um académico dedicado à seríssima missão de estudar a história da economia, e de a ensinar em Berkeley, na Universidade da Califórnia, decidiu fazer uma gracinha e escreveu um ensaio sobre a estupidez humana. O texto destinava-se a um grupo restrito de amigos, mas era de tal forma mordaz que logo se foi espalhando. Nele, as pessoas eram divididas em quatro tipos, de acordo com as suas acções e com as consequências que estas tinham nos próprios e nos outros. Segundo a tese provocatória de Cipolla, podemos ser: inteligentes, se os nossos comportamentos nos beneficiarem a nós e aos outros; bandidos, se nós ganharmos com isso e os outros saírem prejudicados; tansos, se nos prejudicarmos e beneficiarmos os outros; ou estúpidos, se nós e os outros forem simultaneamente lesados pelo que fizermos. Acreditando que este último grupo representava um grande perigo para a humanidade, o ensaísta propunha-se a fixar as leis fundamentais da estupidez humana. Estabeleceu cinco – mas já lá vamos. O texto acabou por ser publicado em livro, em 1988, em conjunto com outro ensaio satírico. O volume foi editado em italiano, Allegro ma non troppo, e mais tarde traduzido para várias línguas, o português incluído. Há cerca de três anos, chegou às mãos de João de Brito, director artístico do LAMA Teatro, de Faro. “Li e achei que podia levá-lo à cena mais cedo ou mais tarde. Só que o texto em si dificilmente daria para fazer um espectáculo, porque é muito técnico”

Olga Roriz e a vida perdida das praças: “Cada vez nos fechamos mais nos nossos telemóveis”
Peter Handke ainda não sonharia com o Prémio Nobel quando, em 1992, publicou e estreou A Hora em que Não Sabíamos Nada Uns dos Outros. Uma peça que originalmente tem 450 personagens e que, na mitologia do dramaturgo austríaco, resulta de um dia de observação a partir de uma esplanada de Muggia, comuna italiana de Trieste, em que as pequenas coisas que aconteciam na praça se tornaram significativas para Handke. Três décadas mais tarde, as praças mudaram. Já não são espaços de encontro com amigos, conhecidos, estranhos. Já não vamos para a praça acertar um negócio, comunicar, viver colectivamente. “Perdeu-se isso. Estamos com os nossos telemóveis e computadores, e aí é que encontramos as pessoas que queremos”, observa Olga Roriz, que vai revisitar a peça no São Luiz entre 12 e 21 de Maio. Para isso, teve de a actualizar por completo. “Eu não fiz esta encenação/coreografia inspirada na peça do Peter Handke, eu fiz a peça”, assegura. “Há uma fisicalidade nas praças, hoje em dia, que nada tem a ver com a fisicalidade daquela altura”, diz a coreógrafa à Time Out, por telefone. Daí a necessidade de mudar, para que o público se possa reconhecer, tanto nos rostos que se cruzam em palco como na utilização calada, desconfiada, apartada deste espaço comum. Olga Roriz não precisa que lhe contem. Viveu as duas épocas. Sabe bem a diferença. Hoje, a nossa experiência de vida é infinitamente mais individualizada do que era em 1992. “Cada vez nos fechamos mais nos nossos auriculares, nos nosso

Estrada das Laranjeiras vai ser parcialmente cortada ao trânsito durante cinco meses
Mais de um ano depois do início das obras, a intervenção que está a mudar substancialmente o perfil de Sete Rios, pedonalizando boa parte da Praça Marechal Humberto Delgado, diante do Jardim Zoológico, continua a avançar. No processo, os constrangimentos à circulação são inevitáveis e nos próximos meses há novos a ter em conta. A partir de 8 de Maio, segunda-feira, a Estrada das Laranjeiras vai ser parcialmente cortada ao trânsito entre a Calçada da Palma de Baixo e a Avenida Das Forças Armadas, ou seja, nos cerca de 300 entre o Teatro Thalia e o cruzamento por cima do qual passa o viaduto do Eixo Norte/Sul. Do lado de lá fica o Terminal Rodoviário de Sete Rios. A Câmara de Lisboa estima que esta fase dos trabalhos dure cinco meses. Num comunicado divulgado nesta sexta-feira, a autarquia sugere alternativas para a circulação rodoviária. No sentido Sete Rios, quem vier do Eixo Norte/Sul (Telheiras – A2 Sul) e da Avenida Lusíada (Benfica – Hospital de Santa Maria) deve usar o Eixo Norte/Sul e sair para Sete Rios ou para a Avenida dos Combatentes e a Estrada das Laranjeiras; quem vier da Estrada da Luz deve usar a Rua Abranches Ferrão para aceder ao Eixo Norte/Sul. No sentido Estrada das Laranjeiras, o trânsito proveniente do Eixo Norte/Sul (A2 Sul – Telheiras), Avenida das Forças Armadas (Entrecampos – Sete Rios) e Estrada das Laranjeiras (Av. dos Combatentes - Sete Rios) deve usar o Eixo Norte/Sul e sair para a Rua São Tomás de Aquino e a Estrada da Luz. As obras em Sete Rios

Prémios Play consagram Ana Moura, a ousada, e Ivandro, a promessa
Ana Moura e o seu Casa Guilhermina foram os grandes vencedores dos Prémios Play. A fadista conquistou dois dos três galardões para os quais estava nomeada, melhor artista feminina e melhor álbum, e ainda o Prémio da Crítica. Ana Moura só falhou o prémio Vodafone Canção do Ano, que foi entregue ao outro vencedor da noite desta quinta-feira no Coliseu dos Recreios: Ivandro, por “Lua”. Não é uma surpresa. Afinal, o jovem cantor luso-angolano foi o artista mais ouvido em Portugal no Spotify no ano passado, e este é o único prémio atribuído através do voto popular. Ivandro foi ainda o melhor artista masculino. A actuar em Portalegre, Ivandro não esteve na cerimónia desta quinta edição dos Play (Bispo recebeu os seus prémios). Já Ana Moura subiu ao palco as três vezes a que tinha direito. Da primeira, falou sobre as “lutas” dos últimos anos e sobre as mensagens de ódio que recebe pela ousadia artística de Casa Guilhermina. “Às pessoas que dizem que uma fadista não pode tomar as decisões que tenho tomado, que não pode vestir como eu me visto, que não pode cantar aquilo que tenho cantado, eu queria deixar uma mensagem: eu nasci fadista, eu sou parte do fado. Ter respeito pelo fado é ter respeito por mim”, disse. O melhor álbum de fado foi para Tudo Recomeça, de Aldina Duarte. Continuando na distinção por género, Chasing Contradictions, do Ricardo Toscano Trio, e Lamentationes Hebdomadæ Sanctæ, do Ensemble Bonne Corde, foram distinguidos, respectivamente, como melhor álbum de jazz e m

Trinta anos, 560 páginas, uma história. Os Da Weasel em livro
Os Da Weasel andam em modo auto-celebratório e as saudades que os fãs tinham deles eram tais que todos sem excepção os têm recebido de braços abertos. Viu-se no explosivo concerto que consumou o regresso aos palcos, 12 anos depois, no Nos Alive (considerado pela Time Out o melhor concerto de 2022, e bem, cof! cof! cof!). Viu-se no documentário ilustrado Da Weasel – Agora e Para Sempre, que o jornalista Bruno Martins assinou para a Antena 3, também no ano passado. E vê-se agora, numa altura em que a banda celebra 30 anos redondos sobre a fundação, em Almada, 1993, com a edição da sua biografia oficial. Da Weasel: Uma Página da História é lançado nesta quinta-feira, 27 de Abril, no Lux. É um evento de acesso limitado, mas o livro já está nas livrarias e tanto a banda como a autora, a jornalista Ana Ventura, têm outras quatro datas agendadas para o apresentar de forma completamente aberta: a 3 de Maio na Fnac do Colombo, em Lisboa (18.30, com moderação de Ricardo Farinha); a 5 de Maio, na Fnac de Santa Catarina, no Porto (18.30, com moderação de Tito Couto); a 12 de Maio, na Fnac do Almada Fórum (19.00, com moderação de José Mariño); e a 6 de Junho, na Feira do Livro de Lisboa, no stand da Showtime Books, a editora da biografia (outra vez com com moderação de José Mariño). Ana Ventura tem na sua bibliografia, também com o selo da Showtime Books, os dois volumes de À Minha Maneira, a “autobiografia” dos Xutos & Pontapés (de 2019 e 2020), e Magazino ao Vivo (2021), em co-autoria c